segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mundútero

Quanto tempo precisa passar
até a falta de ar
começar a te matar?
Quantos segundos no exílio de você mesmo
você vive
tentando se enganar,
dizendo:
'eu sou um cara maneiro',
se amando no espelho?

O que é que você sente
quando não tem mais espelho pra se olhar
iludido – porque a realidade já quebrou todos eles?
Será que você continua procurando num lago,
num vidro de carro,
seu reflexo vago?
E quando chega numa poça,
na qual você só se vê todo enlameado?
Será que você ainda se acha bonito,
como dizia aquela moça ao som de um chico,
ou será que te fica um buraco
- aquele mesmo que já te vi tentando preencher
de consumos desvairados,
só pra ver se o que tem de errado
é você ainda não ter tudo
que cabe num avião importado?

A receita -
com o remédio que traz a cura,
ou a medida exata dos ingredientes que compõem o bolo perfeito -
nós engolimos aquele dia há muitos dias atrás,
ainda no mundútero materno
antes de vir presse mundo filho-da-puta.
E aqui é assim:
cada um buscando se preencher,
de juras de curas,
de remédios e bolos.
Não vê o homem infeliz
que a vida é mesmo essa loucura
revestida do sofrimento histérico
de ser incapaz de olhar pro mundo
e pra dentro de si mesmo.